terça-feira, 12 de abril de 2016

Liberdade sexual: tanto para alguns, nada para outros

Em um país com mais mulheres do que homens, com mulheres que lideram grupos familiares, que sustentam os pilares da sociedade brasileira, o machismo e sexismo ainda competem lado a lado com os direitos de igualdade conquistados por todas as mulheres, no âmbito social, empresarial, acadêmico entre tantos outros. Mas eis que ai fica a pergunta: liberdade sexual, por que tanto para alguns e nada para outros?

Desde os primórdios da humanidade, as mulheres que tem relações extraconjugais ou até mesmo antes do matrimônio do casamento, são tratadas como pervertidas, promiscuas, errôneas, de alma impura entre milhares e milhares de termos que se formos aqui ficar escrevendo, passaríamos horas e mais horas. Mas de onde vem essa retaliação ao desejo sexual feminino? De onde vêm essas nomenclaturas exageradas, quando as mesmas em todas as culturas são vistas como objeto (sim, objeto!), de desejo e reprodução masculina. Podemos partir desde o início de tudo, da criação do mundo da mulher pecadora, que além de perder sua alma para o mal perverso ainda arrastou consigo seu marido... Sim, estou falando de Eva, a segunda mulher de Adão, feita da costela do mesmo deveria segui-lo e apoia-lo em tudo o que lhe fosse imposto (enquanto a primeira esposa de Adão, Lility, foi banida do paraíso por se negar a se prostrar diante de Adão e beijar os caminhos por ele percorridos). Alguns milhares de anos há frente, temos Imaculada Virgem Maria, escolhida a dedo pelo próprio Deus para ser genitora de seu filho que iria vir para a Terra a fim de ensinar o amor aos homens, escolhida, aliás, por ser virgem e intocada, enquanto em um povoado próximo ao seu, Maria Madalena era apedrejada pelo simples fato de se deitar com diversos homens sem ter sido prometida á nenhum... Bem partindo disso estamos seguindo apenas contextos históricos e religiosos, mas vamos dar um salto para alguns milhares de anos há frente?

Entraremos nas era do coronelismo, onde as mulheres eram tidas como moeda de troca, ou seja, o pai dava a mão de sua filha mulher para algum conhecido a fim de que a junção do matrimônio viesse a trazer mais fortuna e riqueza á sua família. Após isso temos um momento de rebelação e fortalecimento das mulheres junto a sociedade, onde as mesmas, ganharam o direito do voto, começaram a usar calças, pintar, cortar e fazer várias peripécias em seus cabelos e unhas, mas ainda não podiam transar! A partir dai, foi-se dada uma era “tecnológica”, onde músicas eram tocadas em adoração a corpo feminino, imagens eram expostas em cartazes, filipetas, em revistas e mais centenas de meios de comunicação, Marilyn Monroe era exemplo de beleza e libertinagem, adorada por homens enaltecidos por mulheres que um dia sonhava em ser como ela, mas no fim nada era assim, se os homens chegassem em casa a fim de transar e suas parceiras negassem ou propusessem algo, peculiar, diferente, eram tratadas como o pior lixo humano, pois o mundo externo era sim lindíssimo, mas dentro de casa as mulheres ainda assim eram privadas de ter voz e desejos, pois é como diz a música “Amélia não tinha luxo nenhuma vaidade, Amélia é que era mulher de verdade!”. Ou quando alguma dessas mulheres resolviam se expor, o que vinha à elas? “Joga pedra na Gení! Joga pedra na Gení! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Gení!”.
Pois ainda hoje, em pleno século XXI, com grande pesar que escrevo esse texto, vejo que a teledramaturgia, as músicas, entre vários outros meios de influência, são feitos para com que as mulheres sejam desejadas, porém submissas, e aquelas que assim se recusarem, sejam mais uma Lility, expulsa do paraíso, mais uma Eva que leva seu marido e família à ruina pelo simples fato da sua curiosidade, uma Maria Madalena apedrejada por deixar que seu corpo falasse por si, uma Marilyn Monroe que dançava, atuava e cantava, mas todas as noites voltava sozinha para casa por não ser boa o suficiente para nenhum homem, ou até mesmo uma Gení que merecia ser apedrejada por deitar-se com quem lhe dava prazer e não amor.

Mas ainda assim espero que todas as mulheres possam seguir um conselho da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir, uma das mais importantes vozes do feminismo no século XX: “Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre”.












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