Nos textos
anteriores, fizemos uma pequena cronologia que se inicia quando perguntamos o
que é política. Vimos que estamos inseridos dentro de um sistema, que nesse
sistema temos uma forma de governo e dentro dessa forma de governo temos um
sistema de governo. A política é o conjunto disso tudo: desse sistema e suas
minuciosidades.
Entendendo que
nosso sistema político é muito complexo, vamos retomar os fatos recentes que
aconteceram no Brasil.
No dia 17 de abril
o Brasil presenciou um golpe na sua
recente democracia. A Câmara dos Deputados aprovou a instauração do processo de
impeachment da presidenta Dilma Rousseff por 367 votos a favor. Logo após, no
dia 12 de maio, o Senado votou pela admissibilidade do processo com 55 votos a
favor.
Nesse momento de
instabilidade política e econômica do país, mais uma vez a direita conseguiu
avançar através de um golpe, dessa vez institucional, para instaurar um projeto
que há muito não vence nas urnas.
Em 1964 o Brasil
sofreu um golpe militar que implantou a ditadura
para acabar com qualquer possibilidade do país passar por grandes reformas que
melhorariam a vida da população. João
Goulart, conhecido por Jango, era acusado de ter proximidade com projetos
socialistas, naquela época tão temidos pelos grandes setores da sociedade. Jango
propunha fazer as reformas estruturais que fariam com que o Brasil desse um salto
rumo à igualdade social e à sua estabilidade política e econômica. Durante esse
período de golpe, Jango foi deposto e milhares de pessoas foram torturadas e
mortas, das quais muitas ainda não tiveram seus corpos encontrados até hoje. O
golpe militar de 64 durou 21 anos causando danos irreparáveis ao país. A
ditadura torturou, matou e transformou o Brasil em um solo fértil para a desigualdade
e a corrupção. A censura impossibilitava o acesso à informação. Quem tivesse
uma ideologia diferente da vigente estava sob risco de morte.
31 anos desde o fim
da ditadura militar, o Brasil mais uma vez passa por um golpe na sua então
recente democracia. Uma presidenta
eleita democraticamente, com mais de 54 milhões de votos é afastada do cargo
acusada de crime de responsabilidade
pelas chamadas pedalas fiscais.
O que é a pedalada
fiscal? Pedalada fiscal é um termo que se refere a operações orçamentárias
realizadas pelo Tesouro Nacional, não previstas na legislação, que consistem em
atrasar o repasse de verba a bancos públicos e privados com a intenção de
aliviar a situação fiscal do governo em um determinado mês ou ano, apresentando
melhores indicadores econômicos ao mercado financeiro e aos especialistas em
contas públicas. É como se você atrasasse o pagamento de uma conta em
detrimento de outra mais importante. Até então, pedalada fiscal nunca havia
sido considerada crime e os presidentes anteriores já haviam utilizado esse
recurso.
Muitas pessoas
foram às ruas do país pedindo o fim da corrupção e a favor do impeachment da
presidenta Dilma. Muitas ainda acreditam que o impeachment é pelo fim da
corrupção. Na verdade, mal sabem que Dilma é uma das únicas figuras políticas
importantes que até então não foi citada em nenhum esquema de corrupção ou
ilegalidade. O processo de impeachment fraudulento que está correndo agora tem
um único objetivo: instaurar o projeto político que não venceu nas urnas a todo
custo. Colocar um fim nas investigações que estavam acontecendo para descobrir
os envolvidos com corrupção. Recentemente foram vazados áudios de importantes
políticos, como o do Senador Romero Jucá, comprovando que o impeachment é
golpe, e que a sua finalidade é “mudar o
governo pra poder estancar essa sangria”.
O golpista,
Presidente Interino Michel Temer, um dos maiores articuladores desse golpe, já
mostrou à que veio: logo de cara colocou 7 ministros investigados na lava jato.
Nenhuma mulher nos Ministérios. Nenhum negro ou LGBT. Nenhuma representatividade.
Um governo de homens, brancos e ricos, governando para os mesmos. Um projeto
totalmente diferente daquele que ganhou nas urnas em 2014, um projeto neoliberal e de Estado mínimo que visa privatizações e redução dos direitos até
então conquistados nesse período de governo do Partido dos Trabalhadores. Esse
projeto de Estado mínimo consiste em, literalmente, enxugar o Estado, a fim de
reduzir os “gastos” com políticas sociais.
Mais uma vez
sofremos um golpe. Agora, um golpe institucional, com o apoio de todas as
instâncias políticas e jurídicas, com o legislativo e o judiciário, a fim de
validar esse processo. Um processo amparado e divulgado por uma mídia também
golpista, e tudo isso sendo financiado pelo grande capital (parte daquele
sistema que vimos no começo), para atender os interesses dos grandes
capitalistas e suas respectivas empresas.
Dilma foi afastada
por 180 dias. Michel Temer vem governando pelos retrocessos e firmando um pacto
com os setores mais conservadores da sociedade. Muito provavelmente, dentro
desse período, ainda iremos passar por diversas mudanças estruturais no país e
de cunho político duvidoso. Privatizações e cortes com políticas sociais ainda
estão por vir, mas não nos calaremos diante desse golpe.
Pátria livre!
