terça-feira, 14 de junho de 2016

Semeando a resistência!

Nos textos anteriores, fizemos uma pequena cronologia que se inicia quando perguntamos o que é política. Vimos que estamos inseridos dentro de um sistema, que nesse sistema temos uma forma de governo e dentro dessa forma de governo temos um sistema de governo. A política é o conjunto disso tudo: desse sistema e suas minuciosidades.

Entendendo que nosso sistema político é muito complexo, vamos retomar os fatos recentes que aconteceram no Brasil.

No dia 17 de abril o Brasil presenciou um golpe na sua recente democracia. A Câmara dos Deputados aprovou a instauração do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff por 367 votos a favor. Logo após, no dia 12 de maio, o Senado votou pela admissibilidade do processo com 55 votos a favor.

Nesse momento de instabilidade política e econômica do país, mais uma vez a direita conseguiu avançar através de um golpe, dessa vez institucional, para instaurar um projeto que há muito não vence nas urnas.

Em 1964 o Brasil sofreu um golpe militar que implantou a ditadura para acabar com qualquer possibilidade do país passar por grandes reformas que melhorariam a vida da população. João Goulart, conhecido por Jango, era acusado de ter proximidade com projetos socialistas, naquela época tão temidos pelos grandes setores da sociedade. Jango propunha fazer as reformas estruturais que fariam com que o Brasil desse um salto rumo à igualdade social e à sua estabilidade política e econômica. Durante esse período de golpe, Jango foi deposto e milhares de pessoas foram torturadas e mortas, das quais muitas ainda não tiveram seus corpos encontrados até hoje. O golpe militar de 64 durou 21 anos causando danos irreparáveis ao país. A ditadura torturou, matou e transformou o Brasil em um solo fértil para a desigualdade e a corrupção. A censura impossibilitava o acesso à informação. Quem tivesse uma ideologia diferente da vigente estava sob risco de morte.

31 anos desde o fim da ditadura militar, o Brasil mais uma vez passa por um golpe na sua então recente democracia. Uma presidenta eleita democraticamente, com mais de 54 milhões de votos é afastada do cargo acusada de crime de responsabilidade pelas chamadas pedalas fiscais.

O que é a pedalada fiscal? Pedalada fiscal é um termo que se refere a operações orçamentárias realizadas pelo Tesouro Nacional, não previstas na legislação, que consistem em atrasar o repasse de verba a bancos públicos e privados com a intenção de aliviar a situação fiscal do governo em um determinado mês ou ano, apresentando melhores indicadores econômicos ao mercado financeiro e aos especialistas em contas públicas. É como se você atrasasse o pagamento de uma conta em detrimento de outra mais importante. Até então, pedalada fiscal nunca havia sido considerada crime e os presidentes anteriores já haviam utilizado esse recurso.

Muitas pessoas foram às ruas do país pedindo o fim da corrupção e a favor do impeachment da presidenta Dilma. Muitas ainda acreditam que o impeachment é pelo fim da corrupção. Na verdade, mal sabem que Dilma é uma das únicas figuras políticas importantes que até então não foi citada em nenhum esquema de corrupção ou ilegalidade. O processo de impeachment fraudulento que está correndo agora tem um único objetivo: instaurar o projeto político que não venceu nas urnas a todo custo. Colocar um fim nas investigações que estavam acontecendo para descobrir os envolvidos com corrupção. Recentemente foram vazados áudios de importantes políticos, como o do Senador Romero Jucá, comprovando que o impeachment é golpe, e que a sua finalidade é “mudar o governo pra poder estancar essa sangria”.

O golpista, Presidente Interino Michel Temer, um dos maiores articuladores desse golpe, já mostrou à que veio: logo de cara colocou 7 ministros investigados na lava jato. Nenhuma mulher nos Ministérios. Nenhum negro ou LGBT. Nenhuma representatividade. Um governo de homens, brancos e ricos, governando para os mesmos. Um projeto totalmente diferente daquele que ganhou nas urnas em 2014, um projeto neoliberal e de Estado mínimo que visa privatizações e redução dos direitos até então conquistados nesse período de governo do Partido dos Trabalhadores. Esse projeto de Estado mínimo consiste em, literalmente, enxugar o Estado, a fim de reduzir os “gastos” com políticas sociais.

Mais uma vez sofremos um golpe. Agora, um golpe institucional, com o apoio de todas as instâncias políticas e jurídicas, com o legislativo e o judiciário, a fim de validar esse processo. Um processo amparado e divulgado por uma mídia também golpista, e tudo isso sendo financiado pelo grande capital (parte daquele sistema que vimos no começo), para atender os interesses dos grandes capitalistas e suas respectivas empresas.

Dilma foi afastada por 180 dias. Michel Temer vem governando pelos retrocessos e firmando um pacto com os setores mais conservadores da sociedade. Muito provavelmente, dentro desse período, ainda iremos passar por diversas mudanças estruturais no país e de cunho político duvidoso. Privatizações e cortes com políticas sociais ainda estão por vir, mas não nos calaremos diante desse golpe.


Pátria livre!


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